quando caí da rede
vi que eu existia mesmo
minha mãe apareceu no umbral da porta
logo, meu pai, nu, nasceu de uma sombra e a puxou
ele queria terminar de foder com ela, e
parece que comigo também
os dois, silenciosamente, desapareceram na sombra
vi que eu não existia mesmo
quando caí da rede.
Reynaldo Bessa
Do Livro Outros Barulhos
Prêmio Jabuti – 2009
chacina never stops
troia destruída, restam-nos
as ruínas de Bagdá, chuva de mísseis,
capacetes made in united states
of américa, mãos decepadas e olhares
que ainda miram lugar nenhum, talvez
a névoa sob um céu de escombros,
picotada por rajadas de fuzis fabricados
numa pacata cidadezinha do texas,
moloch esculpido na retina intacta, dervixe
do terror com os olhos vazados, crucifixos
radiativos lançados sobre o cabul
por um helicóptero ianque, pearl jam,
iron maden e nirvana a todo volume
no headphone do soldado imberbe, casas
incineradas, embaixadas fumegando,
sonhos da noite passada retalhados
antes que a luz do sol pudesse
iluminar o caminho de volta, o retorno
a uma ítaca estampada nas páginas
de um gibi amarelado, ou de um jornal
que embrulha o peixe na feira, ante
o espanto da velhinha aposentada
que sempre reclama da alta dos preços
Ademir Assunção
Do livro A Voz do Ventríloquo
Prêmio Jabuti – 2013
Predicado do Sujeito
tem que haver uma mudança
na gramática,
uma mudança substancial,
que não é direito
um verbo irregular
passar a ser sujeito no plural.
deve haver um jeito
de romper os elos anormais
entre o agente da passiva
e as conjunções causais.
deve haver uma conjugação geral
de todo o pessoal interessado
na situação
da posição dos verbos na oração.
que não é direito
um verbo no passado ser sujeito.
não duvido até que possa haver
uma manifestação total
dos verbos regulares,
visando a uma transformação gramatical
no futuro do presente tempo estado,
que não é normal
um sujeito só com tantos predicados.
Salgado Maranhão
Do livro A Cor da Palavra
Prêmio da Academia Brasileira de Letras – 2011
Aline de Oliveira na Oficina de Poesia e
Produção de Vídeo em Sacramento - Manhuaçu-MG
antropofágica 2
na coluna vertebral dos teus martírios
meus poemas instalam seus mistérios
tudo silêncio
tudo farra
tudo festa
ela tem no umbigo um formigueiro
leoa presa na jaula
seu tempo é todo aulas
jung, freud, deleuze
análise quântica dos nervos
semântica física dos ossos
sob o vestido branco de rendas
penso teus dedos de sedas
tocando o bico dos seios
quando tens a carne exposta
e as frutas da santa ceia
coloco na mesa posta
artur gomes
Fernanda Dias na Oficina de Poesia e
Produção de Vídeo em Pdera Dourada -MG
Tropicalirismo
girasóis
pousando
- NU – teu corpo festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
lambuzando a uva
http://www.youtube.com/watch?v=vdzQljkCDBk&feature=youtu.be
in Couro Cru & Carne Viva
in Couro Cru & Carne Viva
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