sábado, 29 de dezembro de 2012

Poesia do Brasil Vol. 15



Meus  três enigmas

Tenho pouco tempo
para resolver os três enigmas que me restam.
Os demais
ou não os resolvi
                                                        ou resolveram
me abandonar
                                  exaustos de mim.

São de  algum modo obedientes.
Só ganham vida
se os convoco.
Isto me dá a estranha sensação
que os controlo.
                              
                                  Complacentes
me olham
do canto de sua jaula.

Enigma que se preza
não se entrega
nem se apressa em estraçalhar
o outro com fúria da fera.

No entardecer
os três enigmas sobrantes
me espreitam soberanos.
Às vezes
mesmo arredios
aceitam meus afagos.
Na dúbia luz da madrugada
parecem desvendáveis.

O dia revém.
Eles me olham penalizados
E começam de novo a me devorar.

Affonso Romano de Saant´Anna


Mala de espera

Quando os céus forem gastos sapatos,
Postos sobre a usada mala de viagem,
Furados de astros, cometas, voragens,
Contemplarei a infância e calçarei os cautos

pés com estes céus tão lestos, gratos
e vagarei por trás de alguma aragem.
Nem se incham os pés nas siderais folhagens,
nem pisarão com solas nos regatos

das constelações. Amada, então posso
esbanjar o fulgor de ser criança.
E caminhar a noite, sem reparar o corso

da Via-Láctea, no seu carro que avança.
E calçarei os céus na luz exausta,
Até brotar o amor que nãos e acaba.

Carlos Nejar

Dois e dois são quatro

Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena

Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
Como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror que acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena

Ferreira Gullar

Abrigo

agora esteio escora de pilar
penso propenso a desabar
quem dirá das estruturas
das paredes rachaduras
mentirá negará arquitetura
a fundação que já se afunda
dirá da fria pedra profunda
fundamental sob às vigas
quem dirá que agora diga
da profusão de estéticas
das linhas matemáticas
já tão curtas quase nulas
quem dirá já não regula
não há métrica no concreto
cair pode ser reto direto
deitar poderia ser o certo
morrer pode ser perto
mas me mantenho ereto
a cabeça sobre os ombros
há muito habito escombros

Rodrigo Mebs


fulinaimagem

1
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os verso que ainda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim admirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos
é fato
bagana acesa sobra o cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço jimmi hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll
pra colher lírios há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem flor de lótus nos bordéis copacabana
procuro um mix da guitarra de santana
com os espinhos da rosa de Noel

Artur Gomes


Alguns dos poema publicados na Antologia Poesia do Brasil – Vol 15- Proyecto Cultural Sur Brasil – Editora Grafiti – Congresso Brasileiro de Poesia – Bento Gonçalves-RS - 2012 - que será lançada no dia 22 de janeiro de 2013 na Livraria Argumento - Rua Dias Ferreira, 417 - Leblon - Rio de Janeiro

fulinaimagem




Fulinaimagem
1

por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e a minha língua fosse
só furor dos canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os verso que ainda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato

por enquanto
vou te amar assim admirando o teu retrato
pensando a minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos

2

o que trago embaixo as solas dos sapatos
é fato
bagana acesa sobra o cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço jimmi hendrix quando quero
dancei bolero sampleando rock and roll
pra colher lírios há que se por o pé na lama
a seda pura foto síntese do papel
tem flor de lótus nos bordéis copacabana
procuro um mix da guitarra de santana
com os espinhos da rosa de Noel


a flor da pele da menina

quando a pele da minha retina
cruzou com a flor da pele dessa menina
raios e centelhas acenderam a chama
os nervos se retesaram
e nas mãos as tuas queimando
ao roçar teus seios
por sob o tecido da blusa
onde meus olhos em brasa
queriam estar rente a pele
como um passeio que revela
a luz de todas as coisas
que existem na caravela
como uma pétala de girassóis
que eu descobri nos olhos dela

arturgomes

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

tecidos sobre a pele




Terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua
da minha boca
não cubra mais tua ferida
entre/aberto
em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio
o que me dói é ter-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante
minha terra
é de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo sabendo – o vão
estreito em cada porta
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
: o saldo e o lucro
 Artur Gomes
in Suor & Cio - 1985 Mostra Internacional de Poesia Sonora - Itália 1990 Fulinaíma Sax Blues Poesia  - 2002 Poesia do Brasil - Vol. 13 - 2010
obs.: agora selecionado com mais 4 poemas de Artur Gomes para representar o Estado do Rio de Janeiro  na antologia Binacional Brasil/Uruguai a ser editada em 2013 pelo pelo Governo do Uruguai através da  Universidade do Trabalho 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

jura secreta 54



moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como o beijo no teu corpo agora

desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da mata atlântica
quântico amor ou meta física
o que em mim não tem respostas

metáfora d´alquimim fugaz brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele pelas tuas costas

os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e no corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo.

Artur Gomes
ooéticas fulinaímicas
in Poesia do Brasil – Vol. 15
Proyecto Cultural Sur Brasil – Grafitte Editora

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mostra Cine Vídeo - IFF 30/11 - 16h



Mostra Cine Vídeo IFF Campus Campos Centro
Dia 30 novembro 2012 - 16h
Local: Auditório Miguel Ramalho - IFF
Campus Campos Centro - Rua Dr. Siqueira, 273
Campos dos Goytacazes-RJ

SagaraNAgens Fulinaímicas

guima
meu mestre guima
em mil perdões
eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da hygia ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta

ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais sagaranas
a morte em vidas severinas
tal qual antropofagia
teu grande serTão vou cumer

nem joão cabral severino
nem virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer

a ferramenta que afino
roubei do meste drummundo
que o diabo giramundo
é o narciso do meu Ser

arturgomes

domingo, 4 de novembro de 2012

Blues & Jazz no Sesc Campos




Jazz Free Som Balaio
Para Moacy Cirne
gravada no CD fulinaíma sax blues poesia

ouvidos negros Miles trumpete nos tímpanos
era uma criança forte como uma bola de gude
era uma criança mole como uma gosma de grude
tanto faz quem tanto não me fez
era uma ant/Versão de blues
nalguma nigth noite uma só vez

ouvidos black rumo premeditando o breque
sampa midnigth ou aversão de Brooklin
não pense aliterações em doses múltiplas
pense sinfonia em rimas raras
assim quando desperta do massificado
ouvidos vais ficando dançarina cara
ao Ter-te Arte nobre  minha musa Odara

ao toque dos tambores ecos sub/urbanos
elétricos negróides urbanóides gente
galáxias relances luzes sumos prato
delícias de iguarias que algum Deus consente
aos gênios dos infernos
que ardem gemem Arte
misturas de comboios das tribos mais distantes
de múltiplas metades juntas numa parte

Artur Gomes
poeta.ator.vídeo.maker

Fulinaíma Produções
(21)6964-4999
 (22)9815-1266

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Ind/Gesta



ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus

ponho meus dedos cínicos no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa vir a ser surpresa
porque amor não te essa de cumer na mesa
é caçador e caça mastigando na floresta
toda tesão que resta desta pátria indefesa

meto meus dedos cínicos sobre tuas costas
vou lambendo bostas destas botas neo-burguesas
porque meu amor não tem essa de vir a ser surpresa
é língua suja e grossa visceral ilesa
pra lamber tudo que possa vomitar na mesa
e me livrar da míngua desta língua portuguesa

neste país de foto & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha

não me metam nestes planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos/armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos

arturgomes

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Valer - São Carlos




Ontem no Sesc São Carlos onde apresentei a  performance Poesia In Concert, conheci algumas pessoas integrantes do  Coletivo TopamosLer, responsável pela programação de literatura dom mês naquela unidade do Sesc-SP com uma série de atividades voltadas para o incentivo a leitura em suas múltiplas diversidade.

 Depois da apresentação ficamos durante duas hora num gostoso bate papo sobre troca de nossas experiências com práticas de criação e leituras que serão desdobradas em ações futuras.

Abaixo segue o Manifesto do Coletivo TopamosLer.

TopamosLer é um Coletivo livre articulado por organizações e pessoas físicas que desejam, acima de qualquer outro interesse, difundir o hábito de ler, incentivando diferentes práticas de leituras em São Carlos.

Busca, principalmente, para que os cidadãos – em especial as crianças – tenham a oportunidade de conviver, ler e, quem sabe, viajar através dos livros aos quais nem sempre tem acesso.

O Coletivo não possui vínculo com qualquer partido político, tomando o partido único da Leitura.

Seu acesso é aberto a todos e a todas que topem ler, in dependente do local e da ocasião em que são realizadas as leituras, assim como independente o grau de instrução dos leitores bem dispostos.

Sua gestão é democrática, igualitária, pautada pelo respeito e pela ética, sendo o destino do Coletivo fruto da vontade da maioria de seus realizadores, rumo ao futuro.

Quanto ao futuro, que a vontade maior de irradiar livros, leituras, leitores, autores, colaboradores e demais profissionais da área do livro se estenda para outras “páginas” do Brasil.

Nossa vontade e nossas ideias são livres. Voe você também. Vá ler, peça que leiam, leia para as pessoas. Faça a leitura VALER.

E o Poesia In Concert em  encontro do coletivo topamos ler o poeta de Campos dos Goytacazes, Artur Gomes, que espalha em alto e bom som, o lirismo e a contundência dos seus versos.