quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Oficina de Poesia Falada



Oficina de Poesia Falada
Criação e Interpretação
De 4 a 8 de março de 2013
São Conrado – Rio de Janeiro – Brasil
maiores informações: portalfulinaima@gmail.com


Exercícios:

1.      Concentração:
Mergulhar no texto até que seja possível compreender todo o seu universo dramático. Perceber as  nuances de cada verso ou de cada palavra, para a partir daí ter condições de criar uma forma adequada de interpretação através da fala.

2.    Respiração:
Respirar calmamente para relaxar antes de cada leitura até sentir o corpo leve, e através da leitura silenciosa, observar espaços rítmicos do texto para melhor executar a respiração dentro desses espaços que devem ser explorados intensamente.

3.    Memorização:
Executar a leitura silenciosa até ter certeza que o texto está completamente compreendido em todos os seus códigos e significados. A partir daí, começar a executar uma leitura em voz alta, frente ao espelho de preferência, procurando verificar se verso por verso já está grudado na ponta da língua e na pele da memória.



Textos para Exercícios


Ali

se alice 
ali se visse 
quanto alice viu 
e não disse 


se ali 
ali se dissesse 
quanta palavra 
veio e não desce 


ali 
bem ali 
dentro da alice 
só alice 
com alice 
ali se parece




Todo dia é dia D

desde que saí de casa
trouxe a viagem de volta
gravada na minha mão
enterrada no umbigo
dentro e fora assim comigo
minha própria condução
todo dia santo dia
queremos, quero viver
meu coração na bacia
todo dia é dia D
há urubus no telhado
e a carne seca é servida
um escorpião enterrado
na sua própria ferida
não escapa, só escapo
pela porta da saída
todo dia é o mesmo dia
de amar-te, amor-te, morrer
todo dia menos dia
mais dia é dia D

Torquato Neto


No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra




As seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom
e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução



Injúria secreta


suassuna no teu corpo
couro de cor compadecida
ariano sábio e louco 
inaugura em mim a vida


pedra de reino no riacho

gumes de atalhos na pedreira
menina dos brincos de pérola
palavra acesa na fogueira
pós os ismos tudo é pós

na pele ou nas aranhas

na carne ou nos lençóis
no palco ou no cinema
a palavra que procuro 
é clara quando não é gema

até furar os meus olhos
com alguma cascata de luz
devassa em mim quando transcende
a lamparina que acende
e transforma em mel o que era pus

 Artur Gomes


Não há Vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabem no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores
está fechado:
“não há vagas”

Só cabem no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema senhores,
não fede
nem cheira

Ferreira Gullar

Direção: Artur Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário