segunda-feira, 28 de março de 2011

poema bíblico



do barro a carne
da costela adão
do teu corpo eva
todo trigo pão

fosse pimenta
 fruta farta
felicidade
tua voz seria
sereia mar marina
maresia
fruta da pele
 teu corpo santo
como farol de lua
pra espantar quebranto


fruta farta

amoras no teu pêlo
quantas línguas
já provaram
mangas
na carne ancestral
da uva roxa
pra desbravar o sexo
no pomar
das tuas coxas

arturgomes

jura secreta 132

 

avisto o mar amaralina
vejo o farol na praia
na areia vejo a menina
não é metáfora
ela tem a boca de nuvens
girassóis entre os joelhos
algas perto das coxas
estrela do mar nos cabelos
poema escrito no sexo
com letras de serpentina

a tatuagem nas costas
a flor da pele retina
é preciso não ter pressa
para entender o que eu digo
ela tem um jeito gal
um furacão no umbigo
a voz de mil oceanos
marés de outras marinas
ouriços presos na língua
de tudo que não se sabe
nada me satisfaz
o movimento dos barcos
o mar de fogo no cais

artur gomes
http://pelegrafia.blogspot.com/



sexta-feira, 18 de março de 2011

porrada lírica





fosse pimenta
fruta farta
felicidade
tua voz seria
sereia mar
marina maresia
fogueira acesa
no teu corpo santo
como farol
de lua
pra espantar
quebranto


porrada lírica

grávida lesma
passeia lentamente
na calçada rente
a vida por um fio
o tempo
preso no seu ventre
como se derepente
mergulhasse fundo no rio



bolero blue

beber
desse conhac
em tua boca
para matar a febre
nas entranhas
entredentes
indecente é a forma
que te como
bebo ou calo
e se não falo
quando quero
na balada
ou
no bolero
não é por falta
de desejo
é
que a fome
desse beijo
furta
qualquer outra
palavra
presa
como caça
indefesa
dentro
da carne
que não sai

quarta-feira, 2 de março de 2011

terra de santa cruz




oh! my brazil ainda em alto mar cabral quando te viu foi logo gritando: terra à vista! e de bandeja te entregando pra união democrática ruralista.

ê fome negra incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus

por aqui nem só beleza
nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria

terra de santa cruz
ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme

salgado mar de fezes
batendo na muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
só pode ser canalha
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de tiradentes


salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás

meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram no ipiranga às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta

só desfraldando a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu

bem no centro do universo
te mando um beijo ó amada
enquanto arranco uma espada
do meu peito varonil
espanto todas estrelas
dos berços do eternamente
pra que acorde toda essa gente
deste vasto céu de anil
pois enquanto dorme o gigante
esplêndido sono profundo
não vê que do outro mundo
robôs te enrabam ó mãe gentil

telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
ate hoje não vieste à minha porta


o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na geléia geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my brazil
minha verde/amarela esperança
portugal já vendeu para frança
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul

o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:

meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná

o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank

ó baby a coisa por aqui não mudou nada
embora sejam outras siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema

neste país de fogo & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha

não metam neste planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos/armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos

meto meus dedos cínicos
no teu corpo em fossa
proclamando o eu ainda possa
vir a ser surpresa
porque meu amor não tem essa
de cumer na mesa
é caçador e caça mastigando na floresta
todo tesão que resta desta pátria indefesa

ponho meus dedos cínicos
sobre tuas costas
vou mastigando bostas
destas botas neoburguesas
porque meu amor não tem essa
de vir a ser supresa
é língua suja e grossa
visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
desta língua portuguesas

artur gomes
http://artur-gomes.blogspot.com/