terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Jura Secreta 101

collagem fulinaímica: artur gomes

Jura secreta 101

a flor da tua pele
me provoca amor intenso
mas amor não tem pele
nome ou sobrenome
amor é uma outra coisa
contrária a tudo aquilo que penso

amar-te não pelo acaso
de encontrar-te cabelos ao vento
onde provoca arte
em tudo aquilo que invento

artur gomes
http://juras-secretas.blogspot.com
travessia

de Almada
vou atravessar o Tejo
barco a vela
Portugal afora

em Lisboa
vou compor um fado
e cantar no porto
feito um blues rasgado
de amor pela senhora
que me espera em paz

e todo vinho
que eu beber agora
será como um beijo
que guardei inteiro
como um marinheiro
que retorna ao cais

travessia 1

com os dentes
cravados na memória
soletro teu nome
Cabo Frio

barco bêbado
fora do teu cais

caminho marítimo
por onde talvez
já passou meu pai

arturgomes
http://artur.gumes.blogspot.com/

Couro Cru & Carne Viva
Terra de santa cruz
ao batizarem-te
deram-te o nome
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te
em ferro
ouro prata
rios minas mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
sal gado mar
de feses
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
só pode ser canalha
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de tiradentes
salve-lindo
pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendes-vouz
de impérios atrás
meu coração
é tão hipócrita
que não janta
e mais imbecil
que ainda canta:
ou
viram no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta.
fosse o brazil mulher das amazonas
caminhasse passo a passo
disputasse mano a mano
guardasse a fauna e a flora
da fome dos tropicanos
ouvisse o lamentos dos peixes
jandaias araras e tucanos
não estaríamos assim condicionados
aos restos do sub-humano
só desfraldando a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
desta terra tão servil:
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu
bem no centro do universo
te mando um beijo ó amada
enquanto arranco uma espada
do meu peito varonil
espanto todas as estrelas
dos berços do eternamente
pra que acorde toda esta gente
deste vasto céu de anil
pois enquanto dorme o gigante
esplêndido sono profundo
não vê que do outro mundo
robôs te enrrabam ó mãe gentil!
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hojenão vieste
à minha porta
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quartata feira
na geléia geral brazileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my brazil
minha verde/amarela esperança
portugal já vendeu para frança
e o coração latino balança
entre o mar de dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta zorra estrangeira e azul
que a muito índio dizia:
meu coração marçal tupã
sangra tupi & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
o sonho rola no parque
o sangue ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

louise marrie: - foto: jiddu saldanha



Esfinge

o amor
não e apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome

é que a flor da tua pele
consome a pele do meu nome

cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz

assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nossos profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo

na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente

o nome tem seus mistérios
que se escondem sob panos
o sol e claro quando não chove
o sal e bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve

o mar que vai e vem
não tem volta
o amor e a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca e a porta
onde o poema não tem fim

artur gomes